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Foto do escritorCarlos Henrique de Resende

Amanhã

Tem dias que estamos animados, excitados com coisas que nos acontecem. Queremos cantar, dizer ao mundo que estamos felizes e tudo parece lindo e cheio de cores. Outros dias é penoso sair da cama e abrir a janela para o mundo, literalmente.


Somos todos feitos de fragilidades, embora gostemos da ideia de parecermos imbatíveis perante os olhos alheios. Bobagem imensa esse fantasma insano de querer a aprovação dos outros a qualquer custo, achar que temos que dar conta de tudo, estar sempre sorrindo, não falar não para ninguém, carregar o mundo nas costas pagando o alto preço que é nos destruirmos totalmente com um fardo tão pesado de se carregar que muitas vezes detona até com nossa saúde.


Dia desses acordei animada e cheia de planos com os preparativos para um bazar para gerar renda para a Fundação Maria Mãe. Tinha que ir ao banco apresentar um ofício para autorização, mas antes passei na casa onde realizamos algumas atividades.


Quando abri a porta logo vi que algo estava errado. A casa tinha sido invadida e vandalizada. Fiquei atordoada e sem ação, sem saber o que fazer. Algo assim representa uma intercorrência no meio da nossa rotina, algo que nos desestabiliza. É uma invasão na intimidade das nossas coisas, daquilo que nos é caro. E dói.


Como algo assim acontece, ficamos na situação paralisante de luta ou fuga. Avaliamos a situação e a fuga é sempre a alternativa mais fácil. Afinal nos deram motivos. Algo deu errado e não precisamos suportar tudo, precisamos?


Não há uma resposta certa para isso. Muitas coisas não suportamos porque elas não ocupam um espaço importante em nossa vida. Então a fuga pode ser natural. Outras, se conseguimos assimilar, nos fortalecem e ensinam coisas como controle das emoções e resistência.


Optei pela luta. Num primeiro momento, apenas fechei a casa, que estava aberta e exposta, retomando-a ao meu cuidado, e fui para o banco seguir com a vida. Mais tarde tomei algumas providências, e no dia seguinte bem cedo, tomei coragem (e atitude) e fui para lá organizar a bagunça deixada. Não foi fácil limpar as fezes deixadas na cozinha, mas eu o fiz. Fiz por mim, pelos meus projetos, sonhos e propósitos, e fiz porque me recuso a ser derrotada por seres humanos cuja infelicidade é tão devastadora que conseguem sentir prazer no escárnio.


Quero começar e terminar as coisas que me proponho a fazer. Quero ser mestre da minha vida e tomar minhas decisões. Quero viver sem medo ou intimidação. Quero seguir em frente porque sei que existem muitas pessoas esperando por quem ainda me tornarei e pelo que ainda vou fazer.


E a recompensa sempre vem. O bazar aconteceu e foi um sucesso. O bem suplantou o mal, mais uma vez. O triunfo me fez descobrir que sou muito mais forte do que imaginava.


A vida tem que seguir sempre, como um rio de águas calmas. O desafio, mesmo, é encontrar dentro de nós a força que muitas vezes desconhecemos ter para nos impulsionar em nossas batalhas, um fio de esperança em meio ao caos, um alento nas horas mais duras, na absoluta certeza de que


‘Amanhã será um lindo dia,

Da mais louca alegria Que se possa imaginar;

Amanhã, mesmo que uns não queiram

Será de outros que esperam

Ver o dia raiar; Amanhã ódios aplacados Temores abrandados Será pleno, será pleno...’


Marta Helena Meireles de Resende - fev/2022


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