Ele tinha 54 anos de idade e vivia uma vida solitária. Caminhava pelas ruas, mal vestido, de cabeça baixa... Só Deus sabe o que pensava. Assim, Sr. Manoel vivia sua rotina, morando em um parque, em meio a árvores, sem nenhuma visita a receber. Exceto por uma estudante de Serviço Social, que por uma eventualidade do destino, ou uma fatalidade, tomou conhecimento de sua situação através de uma pesquisa universitária. Sentava-se perto dele, levava comida e tentava compreender como era possível que um indivíduo pudesse viver em condições tão precárias. Através do diálogo, percebeu que o Sr. Manoel já não vivia mais são. Assim como vagava pelas ruas, também vagava pelas palavras. Já não tinha mais uma noção exata de sua realidade. Assimilara que ali era seu lugar. Consciente ou inconscientemente. Mas não era. A rua não é o lugar de ninguém. É o lugar de todos. Mas ali ele vivia. Esquecido, abandonado e à margem da sua sociedade. Aquela estudante, que se interessara pela sua vida e lutava para conceder o mínimo de dignidade àquele homem, descobriu que a situação do Sr. Manoel era um pouco mais densa do que poderia imaginar. Ele vivia na rua havia 26 anos. Natural de Juazeiro do Norte, no Ceará, era mais um ser humano que fugia da miséria para tentar a vida em São Paulo. E por momentos conseguiu. Trabalhou e viveu uma vida estável por alguns momentos. Passou por um surto psicológico em determinado momento, os motivos são desconhecidos, cercados por alguns boatos e foi viver na rua. A estudante, ao tomar conhecimento de sua situação, tomou as providências cabíveis, e foi atrás de órgãos públicos para tentar encaminhar ‘Seu’ Manoel a algum órgão de assistência, a algum abrigo, casa de apoio, ou qualquer coisa que livrasse aquele homem da vida que nem um animal merece viver. Em sua busca, esbarrou na burocracia, na negligência e na falta de comprometimento e de profissionalismo daqueles órgãos públicos, que existem para garantir o mínimo apoio ao cidadão. E Seu Manoel continuou vivendo sua vida solitária. Esquecido e marginalizado. Hoje, 24 de outubro de 2012, Manoel Justino da Silva não acordou. Entre as árvores onde viveu grande parte de sua vida, se foi. Somente então a polícia e a imprensa se voltaram para ele. Apenas mais um pobre homem que se tornou vítima da realidade. Desconhecido, e invisível. Só foi identificado por aquela estudante, a única a chorar e lamentar sua morte. Justo? Não.
Breno Meireles de Resende, out/2012
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